Uma das maiores aceleradoras do país, a Darwin Startups está levantando seu primeiro fundo de investimento em participações (FIP) para assinar cheques maiores. Com volume previsto de R$ 100 milhões, o veículo deve fazer um primeiro fechamento ainda neste ano, estimado em R$ 70 milhões, e começar a explorar setores até então fora do alcance da tese da casa — como agro e saúde, por exemplo.
“Quando a gente começou esse trabalho, lá em 2015, muita gente ainda não entendia muito bem a lógica de investimento em early stage. Hoje o mercado está bem mais maduro, o que permite a gente trazer nosso know-how para um fundo mais tradicional e regulado por CVM”, avalia Marcos Mueller, CEO da Darwin.
Até então, a Darwin atuava com uma estratégia multicorporativa, nos moldes de uma SPE (Sociedade de Propósito Específico), em que blindava seus investidores do risco. Quando ainda não havia teses de corporate venture capital no país, a aceleradora entendeu que trazer capital do universo corporativo poderia ser uma solução mais aderente ao mercado brasileiro.
Nesse modelo, atraiu, ainda em 2016, B3 e Safra, duas das que seguem investindo até hoje, além de Via, TransUnion, Neoway e outras. Com o passar do tempo, algumas empresas foram individualizando a tese e passaram a operar em fundos individuais com a Darwin em startups dos próprios setores — por isso que, até aqui, iniciativas de agro e saúde, por exemplo, ficaram de fora do portfólio.
Com o novo fundo, a Darwin planeja entrar em deals maiores de até R$ 6 milhões — até aqui, o cheque médio ficava entre R$ 200 mil e R$ 500 mil, podendo chegar a um máximo de R$ 1 milhão. Os recursos também devem apoiar as startups do próprio portfólio em rodadas seguintes.
Uma parte menos óbvia da estratégia consiste em adotar um modelo de venture builder, convidando founders experientes e ex-acelerados para montarem startups em setores em que a Darwin enxergue oportunidades de mercado. Mais ousada ainda é a intenção de apoiar os empreendedores em sua vida financeira pessoal e familiar: a ideia é criar um modelo de investimento em que o fundador possa embolsar parte do cheque — sem ter que abrir mão totalmente da participação ou gestão da startup.
“É uma tese bem diferente, mas acredito que o mercado está num momento em que entende o que está por trás disso”, diz Mueller. “Já vi casos de empresas crescendo dois dígitos ao mês, em que o fundador estava endividado porque pegou financiamento para tirar o projeto do papel. Como vai poder se concentrar no que importa? É preciso garantir um mínimo.”
Ao longo dos oito anos de operação, a Darwin tem entregado um retorno médio de 3,5 vezes o valor investido — uma performance que, sem um FIP regulado, ficava fora do radar. Ao todo, foram R$ 25 milhões investidos para criar um portfólio de 100 empresas com R$ 170 milhões em faturamento anual somado e valor de mercado estimado em R$ 1 bilhão — relevante, considerando que a estratégia é de early stage.
Foram 11 saídas até aqui. Entre as maiores, a PagueVeloz foi adquirida pela Serasa há cerca de dois anos — mas o valor do negócio não foi divulgado. Uma das primeiras investidas do portfólio, a Meetime, mais tarde foi comprada pela Sankhya, e, depois, Flow e Finansystech, ambas absorvidas pela Celcoin, para citar outros exemplos.
Apesar da sede em Florianópolis, a Darwin tem investimentos em todas as regiões do país (mas, especialmente em São Paulo e Santa Catarina). O principal programa da aceleradora tem duas turmas anuais, uma em cada semestre, e já formou 14 grupos até aqui, com cheque no início da mentoria. A aceleradora também realiza projetos com parcerias como Google for Startups, Sebrae, BID e Cubo Itaú.