Um novo estudo do Boston Consulting Group (BCG), em parceria com a Cambridge Associates, descobriu que firmas de private equity e venture capital com mais diversidade na equipe estão crescendo mais rápido e acessando negócios mais exclusivos do que as concorrentes. A pesquisa analisou 84 mil companhias americanas — mas há paralelos com o mercado brasileiro.
“O tema da diversidade foi, por muito tempo, tratado como uma forma de cumprir tabela, uma coisa meio pró-forma. Recentemente, começou a ser visto de forma mais estrutural”, diz Paulo Mattosinho, sócio do BCG. “As conclusões desse estudo são interessantes: firmas com mais da metade da liderança diversa não só crescem mais rápido, como conseguem entregar retornos tão bons quanto ou até maiores.”
Para levantar os dados, o BCG considerou apenas firmas dos EUA que tivessem 50% ou mais de seu quadro de sócios e posições de liderança compostas por mulheres e pessoas não brancas. O relatório ressalta, porém, que outros tipos de diversidade podem trazer resultados semelhantes nas firmas de PE e VC. Pessoas de diferentes orientações sexuais ou contextos socioeconômicos, por exemplo, podem gerar o mesmo tipo de impacto.
Por contratarem mais mulheres e pessoas não brancas, as firmas diversas do estudo puderam acessar negócios de diferentes modelos, setores e backgrounds. De acordo com os pesquisadores, isso acontece pela rede de networking, também mais plural, trazida justamente pelas diferentes carreiras e experiências de vida de gestores e sócios.
De forma mais direta, o aspecto se refletiu numa maior participação desses fundos em rodadas de early stage — nas quais o risco mais alto pode ser acompanhado de retornos mais elevados também. Mais do que isso, cerca de 30% das transações feitas por firmas heterogêneas garantem exclusividade, em que as concorrentes mais “padrão” não tiveram acesso. O número representa 7% de todos os deals divulgados e indica uma vantagem de assimetria perante as concorrentes.
O volume investido e a representatividade na liderança das rodadas também aumentaram. De 2018 a 2022, os aportes desse tipo de empresa cresceram 25% a cada ano — com ponto de partida em US$ 33 bilhões —, num ritmo duas vezes mais rápido do que as concorrentes uniformes. As rodadas lideradas por firmas diversificadas também aumentaram 14% no mesmo período.
Apesar de ter analisado somente os EUA, a consultoria vê paralelos com outros mercados, como o brasileiro. Assim como o Vale do Silício não é mais tão hegemônico, no Brasil, a Faria Lima e as pequenas bolhas de inovação no mercado paulista não têm mais a exclusividade dos cheques — um reflexo da entrada de executivos com diferentes contextos no mercado financeiro.
Como táticas para implementar mais diversidade dentro das gestoras, a consultoria destaca a formação de jovens talentos, em parceria com universidades, ações afirmativas pontuais e mais equidade nos planos de carreira, com licença parental de mesma duração para homens e mulheres, por exemplo. O sócio destaca ainda a importância de ter modelos em estágios mais avançados de carreira dentro das firmas.
“O trabalho a ser feito é acolher essa diversidade desde antes: as universidades de elite têm certos vieses sociais, que existem há anos. É preciso formar profissionais com diversidade mais cedo. E garantir que, uma vez dentro da empresa, tenham oportunidades para crescer”, diz Mattosinho. “Isso inspira gerações que estão por vir.”